A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição comum em crianças, caracterizada pelo retorno do conteúdo gástrico para o esôfago. Quando não tratada adequadamente, pode causar desconforto e complicações importantes.
É essencial diferenciar o refluxo gastroesofágico fisiológico (que pode ser normal em bebês) da DRGE, que é um quadro crônico, com sintomas persistentes e risco de lesões no esôfago. Entender como ocorre, identificar sinais de alerta e buscar o tratamento correto são passos fundamentais para garantir qualidade de vida às crianças.
Como Ocorre o Refluxo Gastroesofágico em Crianças?
O refluxo ocorre quando o esfíncter esofágico inferior (EEI), estrutura que funciona como uma válvula entre o esôfago e o estômago, perde sua função. Esse enfraquecimento permite que o conteúdo gástrico — rico em ácido e enzimas — retorne para o esôfago, causando irritação e sintomas.
- Em bebês, o refluxo é comum devido à imaturidade do sistema digestivo.
- Na maioria dos casos, isso melhora com o crescimento.
- Porém, quando o refluxo se torna persistente, causa dor ou lesões no esôfago, passa a ser considerado DRGE — exigindo avaliação médica.
Sintomas e Como Identificar a DRGE em Crianças
O diagnóstico precoce da DRGE é fundamental para prevenir complicações. Os sintomas variam conforme a faixa etária:
Em bebês:
- Regurgitação frequente.
- Choro excessivo após mamar.
- Irritação e dificuldade para dormir.
Em crianças maiores:
- Dor no peito.
- Sensação de queimação (azia).
- Dificuldade para engolir.
- Tosse crônica e rouquidão.
- Sintomas respiratórios (asma ou pneumonia de repetição).
Principais Sintomas da DRGE em Crianças
- Regurgitação frequente: Quando excessiva ou associada a dor, pode indicar DRGE.
- Dor no peito e queimação: Sintomas comuns em crianças maiores, podendo indicar esofagite.
- Tosse crônica e rouquidão: Pode ocorrer pela irritação das vias respiratórias superiores.
- Dificuldade para engolir (disfagia): Inflamação esofágica pode causar dor ao engolir.
- Sintomas respiratórios recorrentes: Em casos de aspiração do conteúdo gástrico, pode haver agravamento de quadros como asma ou pneumonia.
Diagnóstico da DRGE em Crianças
O diagnóstico é feito a partir da avaliação clínica e da história detalhada dos sintomas relatados pelos pais.
Em casos graves ou persistentes, o médico pode solicitar:
- Endoscopia digestiva alta (avalia presença de esofagite ou lesões).
- pHmetria esofágica (mede a acidez no esôfago ao longo de 24 horas).
Tratamento da DRGE em Crianças
O tratamento da DRGE em crianças é personalizado conforme a gravidade e a idade da criança. As abordagens incluem:
1. Mudanças na alimentação e no estilo de vida
- Fracionar as refeições.
- Evitar alimentos gordurosos, cítricos e picantes.
- Evitar que a criança deite logo após comer.
- Ajustar a posição durante o sono (elevar cabeceira).
2. Uso de medicamentos
- Inibidores da bomba de prótons (IBPs) podem ser prescritos para reduzir a acidez estomacal e tratar inflamações.
- Antiácidos e medicamentos procinéticos podem ser indicados em casos selecionados.
3. Cirurgia (em casos graves)
- A fundoplicatura é uma cirurgia para reforçar o esfíncter esofágico inferior, sendo indicada apenas quando o tratamento clínico falha.
Prevenção e Controle da DRGE
Alguns cuidados podem ajudar a prevenir e controlar os sintomas da DRGE:
- Evitar refeições volumosas.
- Priorizar alimentos leves e balanceados.
- Não permitir que a criança deite logo após comer.
- Evitar refrigerantes, sucos ácidos e frituras.
- Manter o peso adequado para a idade.
Considerações Finais
A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) em crianças é uma condição tratável, mas requer atenção precoce para evitar complicações.
Se o seu filho apresenta sintomas como dor no peito, tosse crônica ou dificuldade para engolir, procure um especialista. O acompanhamento médico adequado é a chave para o controle da DRGE e para garantir que a criança cresça saudável e sem desconfortos digestivos.
Referências Científicas
- Heine RG, et al. Gastroesophageal reflux disease in children. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2006;43:469-75.
- Vandenplas Y, et al. Gastroesophageal reflux disease in infants and children. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2004;39(5):502-13.
- Nelson SP, et al. The role of the lower esophageal sphincter in gastroesophageal reflux disease. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2003;37(5):557-61.
- Benninga MA, et al. Gastroesophageal reflux in children: clinical manifestations and diagnosis. World J Gastroenterol. 2006;12(36):5821-4.
- Sontag SJ. Respiratory complications of gastroesophageal reflux disease. Clin Chest Med. 1993;14(3):655-64.
- Lanza FL, et al. Management of gastroesophageal reflux disease. N Engl J Med. 2001;345(14):1056-62.
- Ducharme FM, et al. Gastroesophageal reflux and asthma in children. J Pediatr. 2003;142(4):417-23.
- Lightdale JR, et al. Pediatric gastroesophageal reflux disease: consensus statement. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2009;49(4):391-8.
- Riccioni ME, et al. Proton pump inhibitors in pediatric gastroesophageal reflux disease. Pediatr Drugs. 2010;12(4):217-27.
- Bower DJ, et al. The management of pediatric gastroesophageal reflux disease: an update. Gastroenterology Clinics of North America. 2015;44(3):497-510.
- Nocerino R, et al. Medical management of pediatric gastroesophageal reflux disease. World J Gastroenterol. 2015;21(33):10126-33.
- Bielefeldt K, et al. Diet and lifestyle interventions for gastroesophageal reflux disease. Curr Gastroenterol Rep. 2005;7(3):162-7.