As cólicas do recém-nascido são, sem dúvida, um dos maiores desafios da maternidade nos primeiros meses de vida. O bebê chora inconsolavelmente, se contorce, encolhe as perninhas, fica vermelho. Do outro lado, a mãe — exausta, insegura e muitas vezes sem saber no que confiar.
Mas afinal, o que realmente funciona para cólicas? O que é mito e o que tem comprovação científica? Neste artigo, você vai entender as causas, estratégias eficazes e, principalmente, como aliviar o sofrimento do seu bebê de forma segura, com embasamento médico.
O que são cólicas infantis?
De acordo com a clássica definição de Wessel (1954), cólicas são caracterizadas pela “Regra dos 3”:
- Choro por mais de 3 horas por dia,
- Em pelo menos 3 dias por semana,
- Com início por volta da 3ª semana de vida e desaparecimento até o 3º mês.
É um quadro funcional, ou seja, sem causa orgânica aparente. Ainda assim, impacta o bem-estar da criança e da família.
Por que as cólicas acontecem?
O intestino do bebê é imaturo. Ao nascer, ele ainda está desenvolvendo a coordenação neuromuscular, a microbiota intestinal e a barreira intestinal que protege contra substâncias irritantes.
Além disso, há fatores que agravam esse desconforto:
- Ingestão de ar durante a mamada (pelo posicionamento incorreto ou frênulo lingual curto);
- Microbiota intestinal desequilibrada, comum em bebês que não mamam leite materno;
- Imaturidade na digestão de certos componentes do leite (como a lactose), mesmo sem intolerância;
- Fatores emocionais: tensão da mãe, ambiente agitado e excesso de estímulos podem piorar o quadro.
O que realmente funciona, segundo a ciência?
1. Aleitamento materno exclusivo
O leite materno não é apenas o melhor alimento. Ele é uma ferramenta terapêutica. Contém:
- IgA secretora, anticorpo que reveste a mucosa intestinal e reduz inflamação;
- Prebióticos naturais (HMOs), que alimentam bactérias benéficas como as Bifidobacterium;
- Probióticos vivos, que modulam a microbiota desde os primeiros dias.
Bebês amamentados têm menor risco de cólicas, gases, constipação e infecções.
2. Técnicas de alívio com toque e posicionamento
Métodos simples têm eficácia reconhecida para alívio imediato:
- Massagens abdominais circulares no sentido horário;
- Exercício de “bicicletinha” com as pernas;
- Colocar o bebê de bruços no antebraço (posição do tigre);
- Banhos mornos e ambiente calmo também ajudam a relaxar o sistema digestivo.
Essas práticas reduzem a percepção de dor e estimulam a movimentação intestinal.
3. Corrigir a pega e evitar aerofagia
Um dos fatores mais negligenciados é o excesso de ar durante a mamada. Ele distende o intestino e aumenta a dor.
Soluções eficazes:
- Avaliação com profissional de amamentação;
- Verificar presença de frênulo lingual curto (língua presa);
- Posicionar o bebê com o corpo bem alinhado e a barriga encostada na mãe.
4. Atenção ao tipo de fórmula, se necessário
Se o bebê não é amamentado, a escolha da fórmula influencia diretamente. Fórmulas com HMOs ou parcialmente hidrolisadas podem ajudar a reduzir sintomas em alguns casos.
⚠️ Importante: A troca de fórmula deve sempre ser orientada por pediatra ou gastropediatra, principalmente diante da suspeita de APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca).
O que não funciona (e pode até piorar)
- Chás e fitoterápicos: não recomendados para bebês. Podem interferir na digestão e trazer riscos.
- Remédios populares: “água de gripe”, “gotinhas milagrosas” ou medicamentos sedativos são perigosos e não resolvem a causa.
- Automedicação com probióticos: devem ser prescritos conforme cada caso.
Quando a cólica pode ser um sinal de alerta?
Embora comum, o choro excessivo pode ser sintoma de outras condições, como:
- APLV: geralmente associada a sangue nas fezes, distensão, diarreia ou constipação.
- Disquesia do lactente: imaturidade na evacuação, não é cólica verdadeira.
- Refluxo gastroesofágico importante: se houver vômitos, recusa alimentar ou perda de peso.
Nestes casos, procure orientação médica.
Conclusão: você não está sozinha — e não precisa sofrer calada
Cólicas fazem parte da imaturidade intestinal, mas isso não significa que nada possa ser feito. Com informação correta, rotina segura e suporte médico adequado, é possível viver os primeiros meses com menos medo e mais conexão com seu bebê.
Se você está nessa jornada, lembre-se: o choro passa, mas o conhecimento fica. E ele é o que te dá segurança para cuidar